Antecipando-se ao carnaval e por isso todo fantasiado de Democracia, Alexandre de Moraes deu uma verdadeira aula magda (sim, magda) na Faculdade de Direito da USP. Falou muito e falou muita besteira. Confessou, por exemplo, se ver numa batalha entre o bem e o mal. Mas o mais surpreendente disso é que ele se vê nas fileiras do bem.
E não tinha ninguém para vaiar. Nem um calouro rebeldezinho. Então vaio eu. Ou melhor, vaiamos nós: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Outra vez e tantas quantas forem necessárias: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Liberticida
Disse mais, Alexandre de Moraes – rimou! Assumiu-se como um liberticida para o qual é impensável que as pessoas tenham um fórum aberto para discutir tudo. Abramos aspas para o mestre nem-tão-amado-assim: “… redes sociais, big techs, ganham amor e ódio. Por isso que o mundo tá tão polarizado. Ninguém entra nas redes sociais pra ver uma discussão técnica intermediária. É amor e ódio. Discurso de ódio, raivoso, agressão, estoura visualizações. Da mesma forma que o amor, coisinha de cachorrinho (…) então não é possível que os países não regulamentem isso”.
E tem gente que ainda não sabe como certas cavalgaduras se tornam professores universitários. Ora, se no Supremo Tribunal Federal há quem pense assim, em termos tão intelectualmente pobres, e reclamando da ausência de “discussão técnica intermediária”… Mas o fato é que, na plateia composta por jovens, não tinha unzinho capaz de vaiar. Então vaio eu. Ou melhor, vaiamos nós: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Outra vez: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Porque a discurso de político a gente reage assim: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Tio de churrasco
O ponto alto da aula magda, porém, foi quando Alexandre de Moraes mencionou aquele que é seu maior inimigo: o tiozão do churrasco. O homem comum, que ele tem por inferior. Ou, mais precisamente, homens brancos e heterossexuais, com mais de 45 anos e que se sentem ameaçados pelas mudanças sociais – de acordo com o pofexô. “Há pessoas que ficaram com rancor pela universalização de direitos e pela excessiva concentração de renda”, disse. E disse mesmo. Por mais inacreditável que pareça.
O curioso é que não passa pela cabeça lustrosa, mas pouco ilustrada, do ministro a possibilidade de esse rancor ser uma reação legítima e natural a várias posturas ilegítimas e antinaturais assumidas pelo Estado ao longo dos últimos, sei lá, trinta anos. Tampouco passa pela calva suprema a necessidade de compreender esse rancor, aplacando-o por meio do convencimento, e não da imposição de uma verdade oficial. Para Alexandre de Moraes, tudo se resolve na base da canetada e de uma vontade: a sua.
Discurso de ódio
Sobre a aula magda, ouvi dizer que teve gente que quis vaiar. Acredito, porque é inconcebível supor que Alexandre de Moraes seja unanimidade entre a futura elite jurídica deste país. Mas o fato é que não vaiaram, provavelmente temendo que a vaia, um mero som que expressa discordância ou desaprovação, fosse considerada discurso de ódio pelo fragilíssimo defensor do que ele insiste em chamar de democracia.
Como se fosse possível existir uma democracia na qual uma simples vaia pode render censura, multa e 17 anos de prisão por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Em tempo: buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! E para que não restem dúvidas: Buuuuuuuuuuuuuuu!, buuuuuuuuuuuuu! e buuuuuuuuuuuuuuu!
noticia por : Gazeta do Povo