A ameaça representada pela China aos Estados Unidos é multifacetada, de longo prazo e agressiva. Da modernização militar à coerção econômica, da guerra cibernética à competição espacial, o desafio imposto pela China à segurança nacional norte-americana é global, atingindo diretamente os interesses, os valores, a segurança e a posição dos Estados Unidos no mundo.
Embora grande parte da atenção dos formuladores de políticas dos EUA tenha se concentrado na ameaça militar chinesa, o país, governado pelo Partido Comunista, também adota uma abordagem ampla e integrada para enfraquecer os Estados Unidos nas esferas econômica, política, cultural e diplomática. Trata-se de uma estratégia abrangente de Estado, que combina meios civis e militares com táticas não convencionais — ou seja, que não envolvem diretamente ações bélicas —, com o objetivo de expandir sua influência e fortalecer sua posição geopolítica.
Esse plano articulado mobiliza instrumentos econômicos, midiáticos, educacionais, políticos, culturais, diplomáticos e informacionais, entre outros, de forma altamente coordenada. As ações chinesas ocorrem tanto no interior dos próprios Estados Unidos, visando minar sua coesão interna, quanto no cenário regional e global, com o objetivo de semear dúvidas entre os aliados norte-americanos.
Em síntese, sob vários aspectos, os Estados Unidos estão envolvidos em uma nova Guerra Fria com a China, e precisam, com urgência, reforçar seus esforços para conter as ações agressivas de Pequim.
Opinião pública, mídia e cultura
Um dos componentes centrais dessa nova Guerra Fria é o empenho do governo chinês em influenciar a opinião pública e a cultura norte-americanas. A China dispõe de um verdadeiro exército de contas anônimas nas redes sociais, utilizadas não apenas para difundir suas posições, mas também para fomentar a divisão interna na sociedade norte-americana e silenciar críticos do regime.
Além disso, distribui nos Estados Unidos veículos de imprensa financiados pelo governo — que, na prática, atuam como instrumentos de propaganda — e investe na criação de infraestrutura midiática destinada tanto a sustentar sua narrativa quanto a reprimir críticas às suas políticas.
Outro exemplo dessa atuação é o apoio estatal chinês a produções cinematográficas específicas, como o filme “Midway” (2019), com o objetivo de criar fissuras na aliança entre Estados Unidos e Japão. A influência chinesa também foi apontada como um dos motivos para a remoção temporária da bandeira de Taiwan da jaqueta do ator Tom Cruise no filme “Top Gun: Maverick” (2022).
Assim como a antiga União Soviética durante a Guerra Fria, a China mobiliza todos os recursos à sua disposição para desafiar, coagir, silenciar e dividir as opiniões em relação às suas políticas e ações. Sua capacidade de influência cultural é empregada com a mesma intensidade que os demais instrumentos de poder.
Espionagem econômica
Tal atuação é especialmente evidente na expansão das capacidades espaciais chinesas. Por meio de forte apoio estatal, espionagem econômica, roubo de propriedade intelectual e coerção, a China ampliou agressivamente sua constelação de satélites e outras capacidades no espaço, conferindo vantagens significativas aos seus serviços militares e de inteligência, bem como às indústrias estatais.
Não por acaso, Pequim tentou até mesmo replicar o conceito do foguete reutilizável Starship, desenvolvido por Elon Musk, e sua estrutura auxiliar de lançamento, a Mechazilla Catching Tower.
Esses são apenas os exemplos mais recentes de uma prática que já se estende por décadas: a espionagem econômica chinesa, que impôs prejuízos substanciais a empresas norte-americanas do setor espacial. Embora o governo chinês proclame a defesa do uso pacífico do espaço, tem, na prática, militarizado agressivamente esse domínio, criando vantagens estratégicas que poderão ser utilizadas em futuros conflitos. É imprescindível que os Estados Unidos redobrem seus esforços para enfrentar essa ameaça contínua.
Organismos internacionais
Paralelamente, o governo chinês busca expandir sistematicamente seu poder sobre instituições internacionais vinculadas às Nações Unidas, bem como outras organizações globais e regionais. Esses esforços visam não apenas aumentar sua influência, mas também silenciar críticas às ações de Pequim e criar entraves diplomáticos e políticos para os Estados Unidos e seus aliados.
Um exemplo ilustrativo é a atuação chinesa em organizações ambientais da ONU, onde conseguiu evitar investigações sobre as atividades de sua milícia marítima — força paramilitar que saqueia estoques pesqueiros em diversas regiões do mundo, destrói recifes de coral e assedia embarcações de outras nações.
Além disso, a China tem atuado para minimizar a visibilidade de seu impacto na poluição atmosférica global e para suavizar as críticas aos efeitos ambientais negativos decorrentes de seus projetos de infraestrutura internacional, como a Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative, BRI), megaprograma de investimentos que abrange dezenas de países e gera preocupações ambientais significativas.
Outro alvo permanente da política externa chinesa é Taiwan. O governo de Pequim busca sistematicamente reduzir o papel da ilha no cenário internacional, deslegitimar seu sistema político e excluí-la de fóruns multilaterais — uma estratégia que visa reforçar sua reivindicação de soberania sobre o território, considerado pela China uma província rebelde.
Enquanto os líderes chineses fazem declarações públicas defendendo relações pacíficas com os Estados Unidos, promovem simultaneamente uma campanha implacável para desafiar Washington em praticamente todas as esferas: econômica, política, diplomática e militar. Trata-se de uma ofensiva sustentada e de longo prazo, que busca ampliar de maneira contínua a influência chinesa, utilizando todos os instrumentos disponíveis do aparato estatal.
Em muitos aspectos, os Estados Unidos estão hoje envolvidos em uma nova Guerra Fria com a China, que exige uma resposta igualmente abrangente e persistente — uma mobilização que não se limite aos recursos do governo, mas que envolva também a sociedade civil, os aliados e parceiros estratégicos, bem como a defesa irrestrita da liberdade de expressão e dos valores democráticos.
Daniel R. Green é doutor em Filosofia (Ph.D.) e pesquisador da Heritage Foundation, think tank conservador sediado em Washington, D.C. Anteriormente, atuou como subsecretário adjunto de Defesa para Estratégia e Desenvolvimento de Forças. É coeditor de “Confronting China: U.S. Defense Policy in an Era of Great Power Competition” (Bloomsbury, 2024).
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©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: The New Cold War With China
noticia por : Gazeta do Povo