Brasil, 2125: como você imagina o país daqui a 100 anos?

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, impôs sigilo de 100 anos ao seu próprio cartão de vacinação. Aparentemente, ele não quer que as pessoas saibam de sua opção (a meu ver, legítima, ainda que hipócrita) por não se vacinar. Só pode ser isso. Afinal, ninguém submeteria um documento menor a um sigilo tão extenso se tivesse feito tudo como mandava o protocolo daquela época de histeria pandêmica. Não gosto nem de lembrar.

A notícia e a medida são meio tolas. Mas valem o registro e a reflexão porque, a partir delas, é possível entender um pouco como pensa o ministro e o governo de que ele faz parte. Porque só alguém cujo ego já ultrapassou a estratosfera e que faz parte de um projeto duradouro de poder é capaz de imaginar que daqui a 100 anos, quando o sigilo for levantado, alguém se lembrará de quem foi esse tal de… de… de… Como é o nome dele mesmo?

Máquina do tempo

Mas Ricardo Lewandowski imagina bem isso. E acredita. Assim como acredita que daqui a um século citarão seu nome como hoje citam o de Ruy Barbosa. Acredita mais, o ministro: que o Brasil se manterá politicamente estável daqui a 100 anos. Ou seja, que o projeto de poder petista deu certo, super certo, certíssimo. Talvez acredite até que seu tataraneto será o presidente. Ou o rei. Acredita ele ainda que em 2125 o conteúdo de seu cartão de vacinação terá a relevância histórica do, sei lá, assassinato de John F. Kennedy.

Consegue perceber o ridículo disso tudo? Não?! Então deixa que vou te ajudar. Vem cá, me dá a mão. Vamos entrar juntos na máquina do tempo. É melhor usar capacete, hein! É que a máquina costuma dar um tranco na reentrada. Isso. Ajustando o timer, deixa eu pegar a calculadora aqui, 2025 mais 100 igual a (sou de Humanas)… 2125. É isso, dia 24 de fevereiro de 2125. Preparado? Três, dois, um.

Imagina daí que imagino daqui

Você imagina daí e eu imagino daqui: dois ciborgues Novonor-JBS estão num salão do Palácio Lula, sede do governo comuno-imperial na capital do país, Lulalândia. Cada qual segura um lado do envelope contendo o Cartão de Vacinação de Ricardo Lewandowski. Paira um clima de tediosa expectativa no ambiente. Às 13h13 toca a Sirene dos Segredos Revelados. Vai começar o espetáculo.

Depois da execução do Hino Nacional composto pelo saudoso Oruam, e diante do olhar vagamente atento de uma plateia que mistura zumbis, humanos e robôs, um terceiro ciborgue se aproxima e, com seus delicados dedos metálicos, abre cuidadosamente o envelope. Que… está vazio. É que há 100 anos o Arquivo de Documentos Sigilosos não era devidamente dedetizado e as traças se fartaram das mentiras e extravagâncias secretas do longínquo governo Lula III.

Autoritarismo, solidão e conflitos

O curioso é que a notícia 100 anos de sigilo sobre um mero cartão de vacinação de uma autoridade menor apareceu poucos tempo depois de eu me deparar com ilustrações de cem anos atrás, nas quais artistas imaginavam nosso atualíssimo século XXI. Havia veículos voadores e robôs e uma abundância de metal e eletricidade naquelas imagens. E havia sobretudo otimismo.

Diante das imagens, tentei imaginar o mundo daqui a 100 anos e me surpreendi com a dificuldade. Quanto às coisas concretas, parece que tudo (exceto o teletransporte) já foi inventado e conquistado. De modo que não consegui imaginar nada de extravagantemente criativo. O mais assustador, porém, foi quando me pus a pensar nas coisas abstratas. Não consegui imaginar um mundo mais livre, próspero e pacífico. Pelo contrário, só consegui imaginar autoritarismo, solidão e conflitos.

O que me faz concluir que, caramba, pessoal! Tá feia, a coisa. A gente precisa, não sei como, mas precisa voltar a sonhar.

noticia por : Gazeta do Povo

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