PIB dos EUA foi 60% superior em 2024, enquanto ritmo crescimento da China se mantém mais robusto por conta do forte incentivo estatal. Especialista ouvido pelo g1 analisa principais dados econômicos. EUA anunciam acordo comercial com China, em meio à guerra tarifária
Os Estados Unidos e a China tentam consolidar o acordo comercial firmado em maio, em Genebra, que reduziu parte das tarifas sobre importações entre os dois países. Novas reuniões realizadas nesta semana, em Londres, indicam que a trégua seguirá de pé — embora não se saiba por quanto tempo.
🛍️ As duas maiores economias do planeta protagonizam uma intensa guerra comercial. As tensões aumentaram após o presidente norte-americano, Donald Trump, iniciar sua ofensiva tarifária contra o gigante asiático e mais de 180 países, em abril.
Os termos do consenso ainda precisam da aprovação oficial dos presidentes Trump e Xi Jinping. Enquanto isso, economistas, empresários e investidores do mundo inteiro seguem atentos aos próximos passos da guerra tarifária e seus impactos para EUA, China e o resto do planeta.
💪 Mas, nessa queda de braços, qual economia é mais forte?
👍👎 E quem sai vencedor ou perdedor da guerra comercial?
Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, explica que essa matemática não é tão simples assim. Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA ter sido 60% superior ao da China em 2024, indicadores evidenciam características e desafios distintos para os dois países.
Ao mesmo tempo, não há um vencedor na guerra comercial: o cenário, neste caso, é prejudicial para ambos, diz ele.
Compare, nesta reportagem, a economia dos dois países com base nos indicadores abaixo:
PIB em valores correntes
PIB per capita
População
Taxa de desemprego
Inflação
Balança comercial EUA x China
📊 PIB em valores correntes
EUA x China: PIB em valores correntes
Arte/g1
O PIB dos EUA foi de US$ 29,2 trilhões em 2024. Já o da China alcançou US$ 18,3 trilhões.
A economia norte-americana foi 60% maior do que a chinesa no ano.
Do lado dos EUA, os principais motores econômicos são consumo e investimentos.
Para os chineses, os destaques são exportação e investimentos.
🇺🇸 A economia norte-americana é considerada mais “balanceada”, por não ser totalmente voltada a investimentos, explica o professor Dumas. Além disso, tem maior foco em consumo do que em exportação, diante de um mercado interno aquecido.
🇨🇳 Enquanto isso, a economia da China é mais direcionada a investimentos e exportações. Um dos principais fatores é o baixo percentual de consumo interno. Mas isso não significa que o chinês consome pouco: ele “produz demais, ‘ao quadrado'”, explica o professor.
O PIB da China avançou 5% em 2024, enquanto o dos EUA avançou 2,8%.
Na média dos últimos cinco anos, a economia chinesa avançou 4,7%. Já a norte-americana, 2,4%.
Dumas explica que a solidez do crescimento econômico chinês também é explicado pelo regime ditatorial do país. Ao adotar um “capitalismo de Estado”, o governo não precisa de fôlego político para implementar suas medidas.
Dessa forma, adota ações diretas para garantir o crescimento e, assim, evitar tensões sociais e desemprego, que poderiam ameaçar a estabilidade política do regime, diz o professor. Além disso, faz planejamentos de longo prazo.
“Para continuar crescendo, o país começou a aumentar a produção de bens industriais, incluindo baterias, painéis solares e carros elétricos. Por isso, nós vemos uma inundação de carros elétricos chineses”, exemplifica.
👷🏾 PIB per capita
EUA x China: PIB per capita
Arte/g1
O PIB per capita dos EUA foi de US$ 85,8 mil em 2024. O da China, de US$ 27,1 mil.
Esse indicador representa o valor médio dos bens e serviços produzidos por habitante em um país.
A forte diferença histórica entre os países reflete, principalmente, a matemática populacional. Como a China tem 1,4 bilhão de habitantes, o PIB total é dividido por uma população muito maior, o que naturalmente leva o PIB per capita a um patamar muito mais baixo em comparação com os EUA.
Dumas, do Insper, diz também que os EUA têm crescido muito mais por “inspiração” (produtividade e qualidade do trabalho). Já a China, por “transpiração” (maior quantidade de trabalho e mão de obra).
Ou seja, o nível de produtividade norte-americano é maior, embora a massa trabalhadora chinesa seja superior. “Agora, a China está mudando, e sabe que precisa crescer via ‘inspiração’, via produtividade”, acrescenta.
👥 População
EUA x China: população
Arte/g1
A população dos EUA era de 340,1 milhões de pessoas em 2024. Na China, de 1,408 bilhão.
Isso significa que a população chinesa é 314% maior.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta caminhos diferentes para os dois países: a população dos EUA deve subir para 352,6 milhões até 2030, e a da China, cair para 1,387 bilhão.
Diante do crescimento acelerado da população, a China implementou, em 1979, a política do filho único. Nela, o governo deixou de garantir assistência social para o segundo e terceiro filhos, com o intuito de desestimular a natalidade.
Essa política mudou recentemente, nos anos 2010, explica o professor Dumas, do Insper. Desde então, é permitido ter até três filhos com acesso a benefícios do governo. A mudança ocorreu diante do envelhecimento da população e necessidade de mão de obra.
Os EUA, por outro lado, não enfrentam o mesmo desafio populacional. Apesar de existir preocupação com a sustentabilidade da Previdência, esse problema é muito mais latente na China.
👩🏭 Taxa de desemprego
EUA x China: taxa de desemprego
Arte/g1
A taxa de desemprego dos EUA ficou em 4% em 2024, enquanto a da China encerrou em 5,1%.
O FMI prevê leve queda na taxa dos EUA e manutenção na da China.
O professor Roberto Dumas, do Insper, explica que, embora as taxas pareçam semelhantes, o governo chinês considera apenas a população urbana em sua contagem. Ou seja, ao excluir os moradores das áreas rurais, a taxa de desemprego no país tende a ser muito maior do que indicam os dados oficiais.
Além disso, o governo adota um forte incentivo para manter o nível de emprego elevado. Essa postura está ligada ao regime político e ao chamado “capitalismo de Estado”. “O país precisa continuar crescendo. Caso contrário, pode haver tensões sociais”, afirma.
Nos EUA, o cenário atual é de pleno emprego, com vagas mais qualificadas e estáveis. Assim, em comparação com a China, os empregos representam condições mais vantajosas, com redes de proteção social, assistência médica e Previdência mais amplas.
Por outro lado, a menor intervenção estatal nos EUA tende a deixar a taxa mais suscetível a oscilações.
📈 Inflação
EUA x China: inflação
Arte/g1
A inflação nos EUA ficou em 3% em 2024. Na China, a taxa foi de 0,2%.
O FMI projeta que, até 2030, os dois países chegarão a um índice de preços próximo de 2%.
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) enfrenta desafios para convergir a taxa para a meta de 2% ao ano. Nesse sentido, as tarifas de Trump criaram novas incertezas para a política monetária do país.
Na China, a inflação praticamente nula reflete o baixo nível de consumo interno, além da crise no setor imobiliário. O índice de preços chinês resistiu, inclusive, aos efeitos da pandemia de Covid-19 — período em que a taxa norte-americana disparou a 8%.
O receio dos chineses de gastar, diz o professor, tem relação também com a baixa cobertura assistencial. Assim, eles optam por poupar, reduzindo a demanda e, consequentemente, os preços. Esse movimento eleva os temores de um cenário de deflação e desaceleração da atividade.
Balança comercial EUA x China
EUA x China: balança comercial
Arte/g1
Os EUA exportaram US$ 144,5 bilhões em bens para a China em 2024.
A China exportou US$ 439,7 bilhões para os EUA no ano.
Com isso, o saldo da balança entre os dois países foi de déficit de US$ 295,2 bilhões para os norte-americanos.
Um dos objetivos de Donald Trump com as tarifas (mesmo que a eficácia seja questionada por economistas) é justamente reduzir o déficit comercial, especialmente com países com os quais os EUA têm maior desequilíbrio, como a China.
De modo geral, os norte-americanos gastam mais com importações do que arrecadam com importações.
Já para a China, o cenário é o contrário: o gigante asiático mais vende para outros países do que compra. E esse resultado tem relação direta com os dados econômicos já vistos nesta reportagem.
“Como o consumo interno é proporcionalmente baixo e o investimento e a produção são muito elevados, os chineses têm que vender o excedente para o exterior”, sintetiza Dumas, do Insper, explicando que nos EUA o cenário é exatamente o contrário.
Segundo ele, portanto, as tarifas de Trump são ineficazes para resolver o problema da balança comercial norte-americana. Além disso, não há vencedor na guerra comercial. Como “você precisa de dois para dançar”, a escalada de embates pode representar “um tiro no pé”, finaliza o professor.
Veja um resumo dos dados no infográfico abaixo:
EUA x China: raio-x das duas maiores economias do planeta
Arte/g1
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Fonte: G1
- Mato Grosso, 15 de junho de 2025 15:25