Floresta pristina. Inferno verde.
A amazônia já foi associada a expressões e visões diferentes. Durante o governo militar era o inferno verde que precisava ser vencido. Expressões como “Para unir os brasileiros nós rasgamos o inferno verde” e “Chega de lendas, vamos faturar”, entre outras, ilustravam jornais e revistas.
A ideia de que a amazônia era um vazio demográfico era usada para justificar obras e para distribuir “terras sem homens para homens sem terra”. Povos indígenas e comunidades locais eram totalmente ignorados.
Em 2003, um artigo publicado na revista Science trouxe novas descobertas arqueológicas que questionavam se a amazônia era uma floresta pristina ou uma grande área em que civilizações prosperaram, se extinguiram, e cujas ruínas foram tomadas pela floresta. Em 2024, descobertas semelhantes foram feitas no Equador.
No Brasil, o professor Eduardo Góes Neves lidera o projeto Amazônia Revelada. Científico, inovador, disruptivo e humanitário, o projeto busca mapear sítios arqueológicos encobertos pela vegetação, em parceria com as comunidades da floresta.
Para isso, o projeto usa uma tecnologia (chamada Lidar) que permite mapear variações de elevação no solo coberto pela floresta. Resultados mostram a presença de geoglifos, estruturas geométricas escavadas no solo que começaram a ser identificadas na amazônia com o aumento do desmatamento a partir da década de 1970. Revelam, ainda, uma rede de cidades pré-colombianas baseadas na agroecologia.
O projeto Amazônia Revelada reescreve a história sem a influência colonialista. Quem frequentou a escola durante o regime militar, como eu, sabe que os livros retratavam uma história distorcida.
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Além disso, o projeto põe em xeque a discussão do marco temporal (que ainda paira no Supremo), revoluciona a forma de se fazer arqueologia e abre espaço para que áreas na amazônia sejam protegidas pelo Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) por meio do registro dos sítios arqueológicos que estão sendo descobertos.
É a ciência aliada à justiça humanitária. É a ciência revelando a história e mostrando o caminho correto para o futuro.
Entretanto, outros interesses caminham na direção oposta da ciência. Na última quarta-feira (21) o Senado aprovou o projeto de lei (2159/2021) que flexibiliza o licenciamento ambiental.
O chamado “PL da Devastação” cria uma modalidade de licença ambiental especial, concedida em até 12 meses para iniciativas que o governo considere prioritárias.
Além disso, empreendimentos de médio porte e médio impacto poluidor podem emitir licença por adesão e compromisso (LAC), ou seja, com base na autodeclaração do proprietário.
Terras indígenas e territórios quilombolas ainda não demarcados deixam de ser áreas protegidas, e sítios arqueológicos ainda não explorados ficam ameaçados.
O Ministério do Meio Ambiente considera o PL um retrocesso ambiental, um risco a segurança ambiental, uma proposta que ignora por completo a crise climática e que é inconstitucional no que se refere à LAC para atividades de médio impacto ambiental.
O Senado argumenta que o PL é necessário para impulsionar o desenvolvimento do país.
Desenvolvimento para quem? A que custo?
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noticia por : UOL