Cenas de caos e violência aconteceram neste sábado (15) na cidade de Bukavu, segundo maior cidade no leste da República Democrática do Congo (RDC), depois que o grupo militar rebelde M23 chegou aos arredores da área.
O conflito entre a facção e as forças de segurança congolesas já deixou mais de 2.900 mortos, e aumentou os temores de uma guerra regional.
Apoiado por Ruanda, o M23 tem avançado para o sul, em direção a Bukavu, desde que tomou Goma, a maior cidade, no final do mês passado. Segundo testemunhas, eles chegaram a Bagira, subúrbio ao norte de Bukavu, na noite de sexta-feira (14), mas não entraram no centro do local.
“Estamos pedindo uma coisa e não podemos aceitar outra: a retirada das tropas ruandesas do território congolês”, disse a primeira-ministra da RDC, Judith Suminwa, à Reuters no sábado. “Somos um país independente e devemos proteger a integridade do nosso território.”
O governo de Ruanda, liderado pelo presidente Paul Kagame, negou apoiar o M23.
Mais cedo, o chefe das Forças Armadas da vizinha Uganda, o general Muhoozi Kainerugaba, disse em um post no X que atacaria a cidade de Bunia, no leste da RDC, a menos que “todas as forças” de lá entregassem suas armas dentro de 24 horas. Suminwa se recusou a comentar a fala do general.
A ameaça aumentou os temores de que a região possa voltar a uma guerra mais ampla, remanescente dos conflitos das décadas de 1990 e 2000 que mataram milhões. O pai do general Kainerugaba é o presidente de Uganda, Yoweri Museveni.
O Exército de Uganda tem apoiado a sua contraparte congolesa na sua luta contra militantes islâmicos no leste desde 2021. No final de janeiro e início de fevereiro, o país enviou outros mil soldados para combaterem o M23. No entanto, especialistas da ONU afirmam que Uganda também tem apoiado o grupo rebelde, liderado por tutsis étnicos.
No sábado, o depósito do Programa Mundial de Alimentos da ONU em Bukavu, que abrigava 6.800 toneladas métricas de alimentos, estava sendo saqueado, disse um porta-voz do local, acrescentando que as atividades da agência no local haviam sido suspensas por semanas devido à deterioração da segurança.
Vídeos nas redes sociais verificados mostraram grandes multidões carregando sacos brancos em uma área de Bukavu próxima ao armazém.
A principal prisão da cidade também havia sido esvaziada no sábado, de acordo com um oficial provincial e um integrante do Exército congolês em Bukavu. Eles relataram que soldados libertaram alguns prisioneiros, enquanto outros escaparam.
Corneille Nangaa, líder de uma aliança rebelde que inclui o M23, afirmou na noite de sexta-feira (14) que os rebeldes haviam entrado em Bukavu e continuariam sua operação na cidade no sábado.
Mas uma pessoa do M23, dois oficiais do Exército congolês e vários residentes de Bukavu disseram no sábado que os rebeldes ainda não haviam entrado no centro da cidade.
Um dos oficiais do Exército afirmou que os soldados estavam sendo retirados para evitar um “massacre” como o ocorrido em Goma.
Militares congoleses incendiaram um depósito de armas em sua base militar em Bukavu na manhã de sábado, de acordo com cinco residentes e um militar.
Lá Fora
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A captura de Bukavu, uma cidade de cerca de 2 milhões de habitantes, segundo o prefeito, representaria uma expansão sem precedentes do território sob controle do M23 desde o início da insurgência em 2022 e significaria mais um golpe à autoridade de Kinshasa nas fronteiras orientais do Congo, ricas em minerais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu diálogo entre as partes em conflito em um discurso durante uma cúpula da União Africana em Adis Abeba, na Etiópia, neste sábado.
“Na República Democrática do Congo, à medida que mais cidades caem, o risco de guerra regional aumenta. É hora de silenciar as armas, é hora de diplomacia e diálogo”, disse ele em uma coletiva de imprensa à margem da cúpula no sábado.
França e Bélgica condenaram a ofensiva do M23 em Bukavu, conforme declarado por seus ministérios das Relações Exteriores em postagens no X no sábado.
O presidente congolês, Félix Tshisekedi, recusou-se repetidamente a falar diretamente com o M23 e cancelou sua participação na cúpula da União Africana, enviando a primeira-ministra para representar o país.
Tshisekedi retornou a Kinshasa na manhã de sábado, segundo a Presidência, após participar da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, na sexta.
noticia por : UOL