Jogo de despedida: todo ídolo deveria ter um

Diego Ribas foi um craque? Nunca considerei. Um ótimo jogador? Sim. Que, apesar de ter defendido a seleção brasileira por alguns anos, jamais chegou a uma Copa do Mundo.

Para o Werder Bremen, da Alemanha, Diego foi sim um craque. Mais que isso, um ídolo. Tanto que propiciou um jogo de despedida para o meia, que defendeu as cores verde e branca do clube de 2006 a 2009, ganhando o apelido de Mágico.

Uma grande festa –que encheu o Weserstadion, em Bremen, que tem capacidade para 42 mil pessoas– para o ex-jogador, que parou de jogar no fim de 2022 (defendia o Flamengo).

Ele atuou um tempo em cada time, as Lendas do Werder e os Amigos do Diego, que incluíram o pentacampeão Cafu, Júlio César (goleiro) e Júlio Baptista, todos ex-seleção brasileira.

A vitória das Lendas, por 6 a 5, veio no fim, com um gol de pênalti dele, Diego, que já tinha feito outros antes, inclusive pelos Amigos.

O jogo de despedida é um amistoso, com quase nenhuma disputa física, impedimentos não vistos pela arbitragem, ex-atletas e atletas veteranos desfilando sua categoria (ou nem tanto) ao lado de futebolistas em plena atividade e rivais em confraternização toda hora, inclusive quando o outro time faz gol.

Até Davi, filho adolescente de Diego, que atuou pelos Amigos, ao lado do pai, fez um gol.

A homenagem, pós-jogo, foi muito bonita, com show de luzes, cânticos do clube, música pop e a reconstituição de um gol histórico que ele marcou, de antes do meio de campo, pelo time alemão. No telão, mensagens de gente célebre no mundo da bola, como Ronaldo Fenômeno e Romário.

O que o Werder Bremen fez para Diego, um estrangeiro que deixa saudade em seus torcedores, é um exemplo do que clubes no Brasil devem fazer para quem marcou época vestindo suas cores.

Foram poucos os ídolos que tiveram um jogo de despedida, um encontro final com a torcida, com colegas e ex-colegas de profissão (muitos dos quais se tornaram amigos), tendo a presença de familiares, de gente querida.

Zico, o maior ídolo da história do Flamengo, foi homenageado no Maracanã em 1990; o ex-goleiro são-paulino Rogério Ceni, no Morumbi em 2015; o ex-meia corintiano Marcelinho Carioca, no Pacaembu em 2010; o ex-atacante vascaíno Roberto Dinamite, no Maracanã em 1993; o ex-goleiro palmeirense Marcos, no Pacaembu em 2012. São exceções.

Pelé, o Rei do Futebol, não teve partida de despedida promovida pelo Santos; Sócrates, idem, pelo Corinthians; Romário, idem, pelo Vasco; Renato Gaúcho, idem, pelo Grêmio; Ronaldinho Gaúcho e Reinaldo, idem, pelo Atlético-MG. Eles e outros craques mereciam, não?

Uma frase atribuída a Paulo Roberto Falcão, o Rei de Roma, titular da seleção na Copa do Mundo de 1982, na Espanha, que não recebeu homenagem (nem na Itália nem no Brasil, onde brilhou pelo Internacional), diz que o jogador de futebol morre duas vezes, uma delas quando se aposenta dos gramados.

Assim, a partida de despedida é um momento muito importante, pois se presta um tributo em vida a alguém que deu grandes alegrias à agremiação, fazendo gols, ou evitando gols (no caso de jogadores de defesa), e conquistando títulos.

Diego Ribas, na antevéspera da celebração em Bremen, concedeu entrevista a jornalistas. Eu o questionei acerca da não participação em Copas do Mundo, especialmente na de 2010, na África do Sul.

“Disputar uma Copa do Mundo foi um dos sonhos que eu não realizei na minha carreira, mas é algo que eu tenho muito bem resolvido. Na Copa de 2010, quando o Dunga era o treinador, eu estava listado entre os melhores jogadores do mundo, mas não fui convocado.”

“Estar na seleção brasileira não depende só do jogador. Quando se é um Ronaldo Fenômeno, um Ronaldinho, é claro que há unanimidade, mas o jogador, por mais talentoso que seja, vai depender da decisão e da preferência do treinador.”

“Não reclamo de oportunidade na seleção brasileira, não sou frustrado com isso nem fico com a sensação de que a carreira poderia ter sido melhor ou mais sólida. Vivi o que tinha que viver no futebol, uma história vitoriosa.”

Aos 40 anos, Diego, que despontou no Santos no começo do século (em time que tinha também Robinho e Elano), escreveu mais um capítulo na história que considera vitoriosa.

Um capítulo certamente inesquecível, que lhe deu uma “primeira morte” feliz e uma cadeira na mesa das exceções.

noticia por : UOL

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