Mais da metade dos alunos da rede pública de ensino da cidade do Rio de Janeiro estudava em áreas controladas por facções do tráfico de drogas ou milícias em 2022.
Ao todo, 466 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio da capital fluminense estavam matriculados em unidades localizadas na região de domínio de algum grupo armado. O número corresponde a 55% dos alunos das redes municipal e estadual daquele ano.
Em toda a região metropolitana, que inclui o Rio e outros 19 municípios, 806 mil alunos estudavam em áreas dominadas por grupos armados e 856 mil estudavam em áreas não dominadas.
Os dados são do levantamento “Educação sob cerco: escolas do Grande Rio impactadas pela violência armada”, lançado nesta quinta-feira (29).
O relatório foi produzido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), Instituto Fogo Cruzado e Ceres-Iesp (Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social).
O levantamento usou dados de 2011 a 2019 do Censo Escolar e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). A localização das escolas, colhida através de dados de georreferenciamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), foi sobreposta ao Mapa dos Grupos Armados, pesquisa do Instituto Fogo Cruzado e do Geni-UFF que apontou, em 2022, áreas de domínio de facções e milícias no Grande Rio.
Os relatos de tiroteios foram colhidos da base de dados do Instituto Fogo Cruzado.
O levantamento aponta que houve em 2022 mais de 4.400 eventos de violência armada nas imediações de escolas públicas da região metropolitana do Rio. O estudo levou em consideração o raio de 100 metros das unidades de ensino.
Ao todo, 1.687 escolas tiveram ao menos um confronto na vizinhança, muitas delas mais de uma vez. Uma única escola em São Gonçalo teve 18 episódios de violência armada em ação policial no mesmo ano.
A região metropolitana do Rio tinha 3.772 escolas públicas em 2022, o que significa, de acordo com o relatório, que 45% das unidades tiveram registro de tiros nas imediações.
Em nota, o governo Cláudio Castro (PL) disse adotar protocolos de comunicação. Núcleos das secretarias municipais e estaduais de educação são avisados, segundo o governo, de quando vai ocorrer uma operação.
A gestão estadual disse ainda que firmou parceria com a Cruz Vermelha Internacional para treinamento de professores que trabalham em áreas conflagradas, e que mais de 4.000 servidores foram capacitados pela Polícia Militar sobre como agir em ameaça de ataques.
A rede estadual tem 600 mil alunos nos 92 municípios. Na capital, 162.252 alunos estão matriculados em 228 escolas.
Em nota, a prefeitura afirmou que conduz a abertura ou o fechamento das escolas seguindo protocolos, com monitoramento da situação em cada território.
A gestão de Eduardo Paes (PSD) disse ainda que faz reposição das aulas perdidas em dias de tiroteio. A rede municipal do Rio tem 1.557 unidades e 650 mil alunos.
No Rio, há histórico de tiroteios que atingiram unidades de ensino. Em 2017, Maria Eduarda, 13, aluna de uma escola municipal em Acari, na zona norte do Rio, morreu após ser atingida por um tiro durante uma aula de educação física.
O estudo mostrou a desproporcionalidade dos tiroteios em diferentes partes da capital fluminense. Em 2022, houve 86 episódios de violência armada na vizinhança de escolas públicas localizadas na zona sul. Na zona norte, foram 1.714 episódios.
“Essa situação reforça as desigualdades já conhecidas, mas também a necessidade de promover maior integração entre as políticas de segurança pública e educação para lidarmos com os efeitos do controle territorial armado no acesso à educação”, afirma Flavia Antunes, chefe do escritório do Unicef no Rio.
noticia por : UOL