Obelisco do Piques precisa de restauração

Ele repousa discretamente no largo da Memória, quase invisível para as milhares de pessoas que passam por ali diariamente. Fica entre as ruas Xavier de Toledo, antes rua do Paredão, Quirino de Andrade, e na encosta do vale do Anhangabaú. Está bem ao lado da estação do metrô.

É o Piques, monumento mais antigo de São Paulo, construído em 1814 pelo mestre de cantaria, a arte de esculpir em pedra, Vicente Gomes Pereira, o Vicentinho. No largo há também um chafariz, que não funciona atualmente. O obelisco está pichado, assim como os azulejos do pórtico que fica logo atrás.

Talvez por ser uma forma simples, piramidal, ele chame pouca atenção e esteja esquecido, apesar dos seus 8,78 metros de altura. Mas se hoje parece irrelevante, durante a primeira metade do século 19 foi um dos pontos mais importantes da cidade.

Obrigatoriamente, os tropeiros que vinham do sul e do oeste do estado, passavam pela estrada de Sorocaba, hoje rua da Consolação. Desembocavam no obelisco pela rua do Paredão para alcançar a desaparecida ponte de Lorena, sobre o ribeirão Anhangabaú, caminho para o centro da cidade.

A posição privilegiada transformou o Piques numa importante referência urbana no período colonial. Os tropeiros estacionavam ali para matar a sede e encher seus cantis, em uma parada de descanso antes do fim da jornada. O largo acabou se tornando um lugar de oportunidades de negócios, cheio de comerciantes. Seu lado vergonhoso foi ter abrigado um mercado de escravos.

O monumento foi encomendado pelo triunvirato que governou o estado até dezembro de 1814 para deixar uma marca e celebrar o fim de uma seca que afligiu São Paulo naqueles tempos.

O responsável pela obra, que envolvia também a abertura do largo e a colocação de um chafariz, foi o engenheiro Daniel Muller. O monumento foi batizado inicialmente como obelisco da Memória. Piques foi um nome dado pelo povo, que via no objeto o formato de uma lança longa usada pelos piqueiros, soldados que tomavam a dianteira na infantaria medieval.

A pujança comercial do largo começou a declinar em 1867, quando foi inaugurada a estação da Luz. O trem substituiu o trabalho dos animais de carga. Tomou mais um duro golpe em 1892, que minaria sua importância logística: a instalação do viaduto do Chá, convertido em rota principal para o Centro. Além disso, houve o fim da escravidão.

Em 1919, o largo passou por uma reforma, que ficou a cargo do arquiteto Victor Dubugras e do artista plástico José Wasth Rodrigues. O projeto, encomendado no governo de Altino Arantes, foi concluído na gestão de Washington Luiz, em 1921.

Previa a recuperação do largo da Memória e a construção de um novo chafariz, do pórtico e a colocação de azulejos decorativos com o brasão da cidade. Também foram instaladas escadarias de pedra. A obra fez parte dos preparativos para a comemoração do centenário da Independência.

Na década de 1970, o largo e o obelisco foram tombados pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).

Mas isso não impediu a degradação acelerada do lugar nas décadas seguintes. Num passado não muito distante era considerado um dos pontos mais perigosos da cidade. Em 2014, no seu segundo centenário, passou por uma restauração. Hoje virou um lugar de passagem, que merecia ser restaurado novamente.


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noticia por : UOL

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