Talvez eu tenha sido um “boy lixo” com alguma mulher, mesmo sem saber. Pensei nisso ao assistir numa sentada só aos seis episódios da série Overcompensating, traduzida para o português como “Muito Esforçado”, no Prime Video.
A produção, escrita e estrelada por Benito Skinner, acompanha Benny, um jovem atleta americano em sua chegada à universidade. No armário, o protagonista tenta bancar uma performance heterossexual. E sustenta por algum tempo. Tudo muda, porém, quando a também caloura Carmen, interpretada pela ótima Wally Baram, entra em cena.
Eles até ensaiam, mas não conseguem desenvolver uma relação amorosa. Carmen é a última tentativa de Benny de tentar parecer hétero. Só que ela não sabe (e talvez nem ele) desse plano.
Pensa na cena: ela se dá conta de que há algo errado nos abraços, beijos e no sexo com ele. Ela acha que é com ela. Ela tenta resolver, melhorar as coisas, se questiona, questiona ele. Nada muda. Ela percebe que há histórias truncadas, mentiras. Ela se decepciona, se afasta. No fim, ela se sente rejeitada. Parece que há algo errado com ela.
Essa é parte da história da série, mas é também uma história que já vivi e que muitos outros homens gays viveram.
Olho para trás e vejo que quando foi comigo não consegui ser honesto e cuidadoso com minhas ex-parceiras. Faltou responsabilidade afetiva, dirá a turma “zenial” que vai se identificar com a série. Me consolo quando penso que tinha 19, 20 anos. Me arrepio, no entanto, quando penso que há homens que vivem nessa dinâmica por décadas.
Se entender gay num mundo heteronormativo é sofrido, e não só para quem se enxerga diferente do que é considerado padrão. Todos ao redor, com maior ou menor grau, são arrastados para essa grande máquina de moer gente que é o preconceito, inclusive as mulheres que nos amaram e que não amamos de volta.
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noticia por : UOL