Revolta da Geração Z deveria ser contra o clientelismo, não contra o capitalismo

Nos campi universitários, nos feeds do TikTok e nas conversas cotidianas, uma narrativa familiar está ganhando força: o capitalismo estaria condenado.

O aumento dos aluguéis e a estagnação dos salários alimentam, entre alguns jovens, a ideia de que o livre mercado fracassou com uma geração inteira. Segundo uma pesquisa de 2024 do Instituto de Assuntos Econômicos (Institute of Economic Affairs, think tank britânico), mais de 60% dos jovens do Reino Unido hoje veem o socialismo de forma positiva. Nos Estados Unidos, a tendência é semelhante: a Geração Z, formada por jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e o início dos anos 2010, mostra-se cada vez mais cética em relação às promessas do capitalismo.

Mas grande parte desse idealismo está enraizada na distância: muitos dos jovens que romantizam o socialismo nunca vivenciaram a disfunção econômica ou a repressão política que esse sistema frequentemente traz. Para aqueles que experimentaram a escassez soviética, o colapso da Venezuela ou a vigilância da antiga Alemanha Oriental, a palavra “socialismo” não sugere justiça ou oportunidade — mas sim medo, fracasso e controle. Há uma razão para tantos terem fugido desses sistemas em direção a países mais livres. O que soa utópico na teoria, muitas vezes se torna distópico na prática.

Culpar o capitalismo, contudo, não acerta o alvo. O verdadeiro culpado é o clientelismo: a aliança profana entre o grande governo e as grandes empresas, que distorce os mercados, bloqueia a concorrência e recompensa conexões políticas em detrimento da inovação genuína.

O mito do capitalismo falido

O capitalismo, em sua essência, baseia-se na troca voluntária. Ele recompensa as empresas que atendem às necessidades e aos desejos das pessoas, com os consumidores decidindo o que funciona ou não. A concorrência impulsiona melhorias, inovação e preços mais baixos. Ninguém é forçado a comprar ou vender: reina a liberdade de escolha.

O clientelismo é algo completamente diferente. Nesse sistema, empresas prosperam não ao atender seus clientes, mas ao fazer lobby junto a políticos. Os lucros advêm de subsídios, resgates financeiros e regulamentações desenhadas para esmagar a concorrência.

A crise financeira de 2008, frequentemente citada como prova das falhas do capitalismo, na verdade demonstrou o que ocorre quando os mercados são manipulados. Bancos imprudentes, em vez de falirem como mereciam, foram socorridos com dinheiro público. Pessoas comuns perderam empregos e casas, enquanto aqueles com conexões políticas sobreviveram e prosperaram.

Isso não era livre iniciativa — era clientelismo.

A pandemia de COVID-19 deixou uma herança sombria. Pequenas empresas foram forçadas a fechar as portas por imposições governamentais. Enquanto isso, gigantes corporativos como a Amazon, capazes de operar sob restrições mais flexíveis ou migrar para o ambiente online, alcançaram lucros recordes. Políticas elaboradas em nome da saúde pública muitas vezes favoreceram os maiores players, deixando a população devastada.

Negociações de ambos os lados do Atlântico

O clientelismo não se limita a um país ou a um partido político. Nos Estados Unidos e na Europa, os sintomas são os mesmos.

Nos EUA, no Canadá e no Reino Unido, o sonho da casa própria está cada vez mais distante para os jovens. O preço exorbitante dos imóveis é frequentemente atribuído à “falha de mercado”, mas a verdadeira causa reside nas múltiplas barreiras impostas pelos governos: leis de zoneamento restritivas, exigências de licenciamento onerosas e atrasos burocráticos intermináveis. Grandes incorporadoras, capazes de navegar ou influenciar esse sistema, sobrevivem. Todos os demais ficam de fora.

Na Europa, o padrão se repete. As leis trabalhistas francesas, desenhadas para proteger os trabalhadores, acabam sufocando as oportunidades. Contratar torna-se arriscado e caro, especialmente para os jovens. Grandes corporações, com recursos para arcar com os custos de conformidade, consolidam seu domínio, enquanto pequenas empresas e startups sequer conseguem decolar.

Há também um mito persistente: o de que grandes empresas temem a intervenção governamental. Na realidade, as maiores corporações frequentemente a acolhem, justamente porque isso as mantém no topo. Gigantes da tecnologia como Facebook (agora Meta) e Google (subsidiária da Alphabet) fazem lobby por mais regulamentação, sabendo que regras complexas estrangularão concorrentes menores, que não podem custear equipes dedicadas ao cumprimento dessas normas. Subsídios à energia verde, por exemplo, destinados a combater as mudanças climáticas, frequentemente acabam despejando bilhões de dólares em empresas bem relacionadas, enquanto excluem inovadores emergentes.

O clientelismo não recompensa as melhores ideias — recompensa os melhores lobistas.

Por que a frustração da Geração Z é justificada

A Geração Z valoriza justiça, criatividade e liberdade — exatamente os princípios que o clientelismo mina. Quando a influência política importa mais do que o mérito e o sucesso depende do favoritismo do governo, em vez da satisfação do consumidor, as oportunidades diminuem e a inovação desacelera.

Mas esses jovens se equivocam ao pensar que o “socialismo” seria uma opção melhor, especialmente considerando o clientelismo desenfreado que existiu em todos os Estados socialistas.

A tentação de buscar a salvação por meio do poder governamental não é nova. A União Soviética começou com uma promessa de igualdade e terminou em opressão e escassez — exceto para as elites partidárias. A Venezuela prometeu o “socialismo do século XXI” e resultou em fome, colapso econômico e repressão política.

Enquanto isso, países que abraçaram a liberdade de mercado — ainda que de forma imperfeita — criaram uma prosperidade incomparável. Mercados tiraram bilhões de pessoas da pobreza e impulsionaram inovações que remodelaram o mundo moderno.

Os mercados não são perfeitos. Mas mantêm aberta a possibilidade de sucesso para qualquer pessoa, e não apenas para aqueles que nasceram privilegiados ou conectados ao poder.

Mire sua indignação no alvo certo

A frustração da Geração Z é real e merece uma válvula de escape. Mas a resposta não está em destruir o capitalismo; está em combater o clientelismo. Um futuro mais livre e justo depende da separação entre empresas e poder político — não de uma união mais estreita entre eles.

Isso significa acabar com o assistencialismo corporativo, simplificar as regras do jogo e garantir que seja a competição, e não as conexões políticas, que determine quem vence.

A luta por justiça vale a pena ser travada — mas deve ser orientada na direção certa. Se nos revoltarmos contra o clientelismo, e não contra o capitalismo, poderemos construir um futuro em que a inovação prospere, as oportunidades sejam reais e cada membro da Geração Z tenha uma chance genuína de ascender.

Lika Kobeshavidze é uma escritora política georgiana, jornalista analítica e bolsista da Young Voices Europe, especializada em política da União Europeia e segurança regional na Europa. Atualmente reside em Lund, na Suécia.

©2025 FEE – Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Falling for Socialism

noticia por : Gazeta do Povo

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