Mato Grosso é destaque nacional no ranking de ataque a mulheres. O Atlas da Violência de 2024 mostra que o estado é vice-campeão em assassinatos, com 108 feminicídios registrados em 2022, quando o levantamento foi feito.
Os dados evidenciam um aumento de 31,9% na taxa de homicídios de mulheres em comparação ao ano anterior, com o total de 81 mortes. O estado mato-grossense está apenas atrás de Roraima, com elevação de 52,9% entre 2021 e 2022.
“Essas estatísticas refletem que Mato Grosso se perfaz em um estado onde o machismo estrutural se perpetua e alimenta a cultura do estupro. Na atualidade, estamos ocupando o primeiro lugar no ranking de números de feminicídios no Brasil. É bastante preocupante, pois as meninas e mulheres crescem envoltas em muitas violências”, declara a defensora pública Rosana Leite.
Além desse total, a pesquisa expõe que o número de mortes de mulheres negras em Mato Grosso, que em 2021 era de 62 mulheres, em 2022 subiu para 84. Resultando no aumento de 32,2%.
Já o número de morte das mulheres não negras, passou de 19 em 2021, para 23 em 2022. Elevação de 21,1%.
“Em geral, é possível afirmar que a maioria dos homicídios que acontecem dentro das residências é cometida por autores conhecidos das vítimas”, consta o documento. Conforme os registros de óbitos, 34,5% dos feminicídios ocorreram em domicílios, totalizando 1.313 vítimas em 2022 em todo Brasil.
A defensora pontua que muitas mulheres preferem não buscar ajuda no poder público por medo de que a violência se torne maior e acreditar que o homem não cometerá um crime mais grave.
“Assim, muitas mulheres ainda são vítimas de violência dentro de casa e acabam não lavrando boletim de ocorrências e nem procurando instituições que atuam no enfrentamento à violência contra as mulheres. A explicação primeira para Mato Grosso estar no topo do ranking só pode estar ligado à cultura do estupro alimentada por aqui”, argumenta.
Em pesquisa realizada pelo Comitê de Análise dos Feminicídios, no primeiro semestre de 2023, 20% dos casos ocorreram em Cuiabá, 80% das mulheres não possuíam medida protetiva e 60% delas foram mortas com armas perfurantes.
Somente no primeiro semestre de 2024, 14 mulheres foram mortas pelo marido, namorado, ex-namorado ou companheiro. Dessas, 7 assassinatos ocorreram de forma muito violentamente a golpes de facas.
Relembre alguns casos:
Jhulia Glezia Souza Neres, 18, foi morta pelo ex-namorado a facadas em Guiratinga, pois o mesmo desconfiava que ela estava se relacionando com seu irmão.
Silvania Barbosa Silvestre, 37, foi morta pelo ex-genro e teve seu corpo desovado próximo ao pesqueiro da cidade, em Lambari D’Oeste. As motivações não foram esclarecidas.
Leidiane Ferro da Silva, 43, foi morta a golpes de facas pelo companheiro após um desentendimento, enquanto a mesma servia sua refeição na cozinha da casa, em Peixoto de Azevedo. O crime foi registrado por uma câmera de segurança.
Também morta a facadas pelo namorado, Lorrane Cristina Silva de Lima, 23, foi encontrada sem vida próxima aos filhos, na própria casa em Diamantino. Em depoimento, ele relatou que matou a vítima por não ter acesso ao celular dela.
Francisca Alves do Nascimento, 35, foi assassinada com 4 facadas pelo ex-companheiro próximo à rodoviária de Lucas do Rio Verde, após ir até o local para tentar reatar o relacionamento.
Maria Vitória Nastácia Vieira, 22, foi morta com dois golpes de faca pelo companheiro após discutirem durante encontro sexual, em Sinop. Ela tentou fugir do ataque, mas não resistiu e morreu no meio da rua.
Eliziane Martins de Oliveira, 24, morreu após o ex-companheiro explodir, de forma proposital, um botijão de gás dentro de casa, em Nova Ubiratã. Ela ficou com diversas queimaduras pelo corpo, foi transferida para Cuiabá, mas não resistiu.
Bruna Oliveira, 24, foi morta por um amigo durante uso de cocaína e álcool, em Sinop. Após uma discussão, o suspeito bateu a cabeça da vítima no chão até ela desfalecer. Ao perceber que ela estava morta, amarrou o corpo em uma motocicleta e a arrastou até uma vala de escoamento, onde ela foi jogada.
Maria Balbino Dias, 39, foi morta a tiros pelo marido no município de Vila Rica. Ele tirou a própria vida na frente dos filhos, após o crime.
Juliana Alves Pereira dos Santos, 27, morreu após dar entrada no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), desacordada e com lesões pelo corpo. O marido dela foi preso por violência doméstica.
Elenice Moreira dos Santos, 42, foi morta a facadas após uma briga com o marido, em Guiratinga. Os filhos da vítima pediram ajuda aos vizinhos, dizendo que o pai iria matar a mãe. Porém, ela foi encontrada sem vida dentro da casa, com perfurações pelo corpo.
Eva Domingas de Oliveira, 39, foi morta a golpes de marreta pelo ex-companheiro em Várzea Grande. Preso, ele admitiu que cometeu o crime por não aceitar o fim do relacionamento.
Rosângela Oliveira da Silva, 49, foi morta a facadas pelo companheiro em Juscimeira. Ela foi encontrada com uma faca cravada no pescoço.
Janaína Ribeiro do Nascimento, 31, foi encontrada morta no quarto, aos fundos de um bar com o pescoço quebrado em Peixoto de Azevedo. Ela estava grávida e o ex-namorado dela ainda é procurado.
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