Censura, perseguição política, ativismo judicial e intervenções estatais em áreas sensíveis da vida civil — tudo isso faz parte de um cenário preocupante que vem se consolidando no Brasil nos últimos anos.
É nesse contexto que surge “Liberdade Ameaçada” (selo Avis Rara), uma coletânea de artigos assinados por jornalistas, parlamentares, juristas, ativistas e intelectuais conservadores, conhecidos por não se acovardar diante do avanço autoritário. Entre eles Pedro Pôncio, escritor, palestrante e professor de Teologia que nasceu e cresceu dentro de um acampamento do MST.
No texto a seguir, ele explica que o movimento não se limita à ocupação de terras: sua primeira invasão acontece dentro das mentes, com uma forte carga ideológica e doutrinária voltada à submissão total dos indivíduos ao coletivo. Uma denúncia de quem viveu nesse sistema — e decidiu escapar.
Aos 11 anos de idade, devido à extrema pobreza de nossa família, meus pais e eu fomos cooptados pela esquerda brasileira e fomos morar em um acampamento do MST. Ali permaneci por quase uma década.
Anos após deixar aquele ambiente e iniciar um processo gradual de libertação das amarras ideológicas às quais fui submetido, descobri que, na verdade, fui fruto de um experimento social. Toda a gama de doutrinação marxista que recebi tinha o objetivo de me transformar em um militante político de esquerda, um terrorista, um verdadeiro soldado da revolução socialista.
Hoje, após um longo período de libertação da mente e anos correndo atrás do prejuízo intelectual que me custou fazer parte do Movimento Sem Terra, sinto a necessidade de explorar um tema relativo ao MST que talvez poucos se disponham a abordar.
Muito se fala sobre a invasão de propriedade privada quando se trata dos “movimentos sociais rurais” no Brasil, tal qual CUT, MST, MTST; pouco se fala do maior trunfo desses movimentos e a maior maldição para as famílias brasileiras: a invasão da mente.
Todas as relações humanas começam na parte imaterial do ser humano: na alma, no espírito, nas emoções, nos pensamentos.
Cada vez que um ser humano vem ao mundo, ele é como uma folha em branco, e, a partir do seu nascimento, cada interação com o mundo, por meio dos sentidos, irá formar seu caráter, sua personalidade e sua bagagem cultural. As ações e decisões que essa pessoa tomará dependerão grandemente das ideias que irão influenciá-la, dos discursos e gatilhos que irão persuadi-la.
Sabendo disso, homens maus e poderosos vêm buscando dominar o mundo sensorial para instrumentalizá-lo politicamente no domínio das massas. O marxismo, por sua vez, tem sido a principal matéria-prima desse processo de alienação coletiva.
Lavagem cerebral
Em meu livro “A Face Oculta do MST”, no capítulo “Uma face mais oculta”, defino o MST como uma seita religiosa e revelo os estratagemas utilizados pelo movimento para promover uma lavagem cerebral em seus membros, através de técnicas psicológicas de manipulação da mente.
No movimento, essa técnica, ou nova religião, é denominada mística. O MST surgiu inicialmente a partir da Comissão Pastoral da Terra (CPT) — um movimento católico marxista que intermediava conflitos no campo. A partir dessa origem, os líderes do movimento decidiram criar uma nova religião, retirando gradualmente os conceitos cristãos e incorporando os princípios da revolução.
Assim, a cruz foi substituída pela bandeira do movimento, Jesus foi substituído por revolucionários tal como Che Guevara, e as canções católicas foram pelo hino oficial do movimento.
Com isso, a mensagem cristã desapareceu, mas a religiosidade permaneceu, sendo, então, denominada “mística”. João Pedro Stedile, um dos fundadores do MST, reconhece a influência da Teologia da Libertação na criação da mística do MST e nem mesmo o uso disseminado dessa nova religião para propagar seus ideais no imaginário dos acampados.
Ele acredita que o movimento tenha criado uma religião superior, algo que, em vez de prometer um “ideal utópico e inalcançável”, como o Evangelho cristão que promete a vida eterna, oferece algo mais material, próximo da realidade e mais estimulante para o povo: a justiça social.
Já os carismáticos, estes usam a mística para um ideal inalcançável. No caso, ela não se sustenta, da mesma forma que esse movimento carismático não dura a vida inteira. As pessoas se darão conta do engodo, que pode até durar 20 anos ou 30 anos, mas não sobrevive na história da humanidade. Diferentemente, fomos construindo maneiras de fazer mística a partir de uma maior compreensão. Antes só imitávamos: “A Igreja usa determinada liturgia mística para manter a unidade em torno do projeto do Evangelho”. Quando forçávamos a cópia, não dava certo porque as pessoas têm de ter o sentimento voltado para algum projeto. A partir dessa compreensão, em cada momento, em cada atividade do movimento, ressaltamos uma faceta do projeto como forma de motivar as pessoas (Stédile, em 2005)
Domínio dos sentidos
Para abordarmos o tema da liberdade, é necessário questionar até que ponto o domínio dos sentidos uma mente pode ter para ainda assim ser considerada “livre”. Até que ponto uma geração, cujas mentes e emoções foram completamente subjugadas por mestres da engenharia social, se tornando parte de uma lavagem cerebral em massa e hospedeiros de uma religião enganosa, pode ser considerada verdadeiramente livre?
A palavra liberdade é bandeira de diversos movimentos políticos e sociais, estampando cartazes e estando presente em canções e poemas. O problema é o mau uso e a ressignificação que essa palavra vem sofrendo nas últimas décadas.
Mas, afinal, o que significa liberdade? Liberdade, por si só, é um conceito originado no contexto judaico-cristão. A palavra liberdade aparece no segundo capítulo do primeiro livro da Torá, quando Deus oferece ao homem a liberdade de fazer uma escolha: obedecer a sua ordem e receber como benefício a vida, ou desobedecer e enfrentar como consequência a morte.
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: ‘De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás’ (Gênesis 2.16)
Livre-arbítrio
No entanto, esse conceito foi abordado pelo pai da filosofia cristã, Santo Agostinho, e atrelado à ideia de livre-arbítrio. Em seu livro “O Livre Arbítrio”, Agostinho abre um diálogo com seu amigo Evódio e lhe explica o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade sempre apontará para a bondade e para a justiça, e isso significa que o homem foi criado por Deus com a liberdade para fazer o bem e que, caso não o faça, a justiça será acionada e o homem será punido.
Assim, quando Deus castiga o pecador, o que parece ele dizer, senão estas palavras: “Eu te castigo porque não usaste de tua vontade livre para aquilo a que eu a concedi a ti? Isto é, para agires com retidão”.
Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbítrio, como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando as boas ações? Visto que a conduta desse homem não seria nem pecado nem boa ação, caso não fosse voluntária.
Igualmente, o castigo, como a recompensa, seria injusto, se o homem não fosse dotado de vontade livre. Ora, era necessário que a justiça estivesse presente tanto no castigo quanto na recompensa, pois aí se encontra um dos bens cuja fonte é Deus.
A ideia de Santo Agostinho sobre a natureza antropológica do homem se opõe àquela de Rousseau, que defende que o homem nasce bom.
A teologia agostiniana, tradicionalmente aceita pelos cristãos, sustenta que o homem, após pecar contra Deus, perdeu aquele livre-arbítrio primitivo. Desde então, todas as suas faculdades cognitivas, sua razão, suas emoções e sua volição estão inclinadas ao mal e não ao bem, isso desde o seu nascimento.
A liberdade então seria a capacidade de ter domínio próprio sobre suas más inclinações e conseguir praticar aquilo que é bom, justo e moral.
Por exemplo, isso poderia ser ilustrado na prática: todos nós temos a liberdade de ir e vir, mas não podemos “ir” para lugares ou propriedades privadas; caso assim o fizermos, estaremos violando a lei; logo, invadir a propriedade de alguém é algo moral e legalmente errado; portanto, todos somos livres para ir e vir, desde que com isso nossas ações sejam alinhadas com o que é bom, justo e moral.
Esse mesmo exemplo pode se aplicar a todas as outras liberdades.
Veja como é contraditório, por exemplo, o uso da palavra “liberdade” sendo aplicada a pessoas cujas mentes estão completamente dominadas por ideologias destrutivas; se dizem livres para usar entorpecentes quando, na realidade, são escravas das drogas; afirmam ser livres sexualmente, quando são escravas da pornografia, da obscenidade e da carência afetiva; afirmam ser livres para expressar suas opiniões, quando, na realidade, são escravas do politicamente correto, do policiamento da opinião e da aprovação de uma militância; são servos e não senhores de si mesmo; são escravos do mal e não livres para agir de acordo com o que é bom, justo e moral para si mesmos.
“Estimulação contraditória”
Além do uso da religião como ferramenta de invasão da mente, para manipulação das massas, em minha experiência no MST, pude observar uma outra estratégia muito utilizada pelo movimento, mas que rompe as fronteiras dos acampamentos e pode ser vista em quase toda a agenda progressista.
Trata-se de um termo conceito chamado estimulação contraditória. Segundo o professor Olavo de Carvalho, no livro “O Jardim das Aflições”, o processo conhecido como lavagem cerebral nada mais é do que a aplicação das teorias do neurofisiologista russo Ivan Pavlov, originalmente chamada de estimulação contraditória, que consiste em anular a consciência do indivíduo criando uma confusão mental, derrubando suas defesas psicológicas, de modo que ele se torna completamente submisso a comandos e sugestões.
No MST, por exemplo, todos os discursos eram carregados de estímulos religiosos revolucionários, mas também repletos de contradições. Era dito, por exemplo, que o movimento pregava o amor, enquanto todas as ações de impacto eram voltadas para o ódio.
Nas invasões, era comum que animais fossem assassinados, por vezes apenas por diversão ou como vingança contra o “grande latifundiário”. Pessoas eram machucadas, e há um vasto histórico de tortura, depredação do bem público e palavras de ordem em tom de ameaça.
Ainda assim, os estímulos, os teatros, e os poemas eram sempre carregados de caridade, bondade e compaixão. Os comitês políticos de esquerda, as universidades e até a própria mídia estão hoje carregados de estimulação contraditória: os discursos são sempre persuasivos e apaixonantes, mas sempre carregados de contradição, e isso cria nos idiotas úteis uma angústia profunda, na qual não há espaço para a racionalidade, semântica e interpretação.
O que disse acerca disso o professor Olavo de Carvalho:
O cidadão comum que, de boné do MST na cabeça, fizesse apelos à paz no campo, seria imediatamente acusado de louco ou de piadista infame. Mas o presidente faz exatamente isso e o público, não sabendo se deve rir ou chorar, indignar-se ou temer, prefere fingir que não viu nada. Finge uma vez, duas, três: na quarta, seu cérebro está programado para não ver a quinta. Nem a sexta. Nem a milésima. Está programado para não ver mais nada nunca mais e para aceitar com docilidade bovina tudo o que lhe entre pelos ouvidos, se vier de fonte oficial. Leiam Pavlov. É exatamente assim, literalmente assim que funciona a estimulação contraditória. Seus efeitos já são perceptíveis em todo o território nacional, onde são cada vez em menor número os olhos abertos para enxergar a enormidade grotesca das situações que se sucedem neste Brasil de 2003, Ano I da Era Lula.
Contradições marxistas
Essa profunda angústia que o leitor sente sempre que se depara com as contradições marxistas apenas reafirma que a estimulação contraditória é uma ferramenta eficaz, cujo objetivo é a confusão mental e o caos social. Se cedermos às suas investidas, não restará pedra sobre pedra no que chamamos de civilização ocidental.
A razão está sob ataque, os valores correm risco de extinção e, todos os dias, milhares de jovens são atingidos por seus ardis. Dia após dia, ligar a TV, assistir a um telejornal ou acessar as redes sociais tem sido um desafio para aqueles que fazem bom uso da racionalidade.
É perturbador, eu sei, saber que tipo de jogo estão jogando e nem sempre conseguimos despertar para a verdade aqueles que estão ao nosso redor; às vezes é frustrante, mas não devemos desistir! É preciso mais do que apenas dizer a essa geração que não são livres; é preciso libertá-los, e isso só será possível se conseguirmos iniciá-los na busca pela verdade.
Eis aqui a prova: quem escreve é alguém que Paulo Freire, com sua pedagogia, não conseguiu transformar em um oprimido. Mesmo diante de tamanha alienação, até a mais pura religião socialista terá que se dobrar perante a verdade, pois ela é imbatível, e nada podemos contra ela.
Não em vão, o homem mais sábio da história disse há 2 mil anos: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32)
noticia por : Gazeta do Povo