O Brasil precisa virar essa página

Caro leitor,

Terça-feira (3) foi um dia daqueles. No Rio, um funkeiro ligado às facções criminosas foi solto e aclamado por uma multidão. A deputada Carla Zambelli fugiu do Brasil. O humorista Léo Lins (afinal tem ou não tem acento?) foi condenado a 8 anos de prisão por causa de um show. Lula fez um daqueles pronunciamentos em que só disse barbaridades. Um jornal publicou um editorial em defesa da censura.

Provavelmente estou me esquecendo de mais alguma tragédia que aconteceu naquele dia, mas você pegou o espírito da coisa. Foi um dia catastrófico, desses que revelam o abismo em que nos encontramos. Sabe aquela sensação de que está tudo errado – e não tem conserto? Pois então. Foi aí que, em meio ao desespero silencioso de quem é obrigado a acompanhar o noticiário, me deparei com ele: o chavão.

O Brasil está na eme

O chavão. O lugar-comum. O clichê. A platitude. “O Brasil precisa virar essa página”, escreveu alguém com a melhor das intenções. Se fosse um dia como outro qualquer, eu espumaria de raiva diante dessa obviedade tão cafona quanto inócua. Mas naquele dia não. Naquele dia me peguei aceitando o diagnóstico geral de que o Brasil está na eme, porque está, e concordando com o tratamento: virar essa página infeliz da nossa história/ passagem desbotada na memória/ das nossas novas gerações.

Agora é que vem o problema: como? O que temos de fazer para virar essa página e continuarmos com a história na esperança de que essa narrativa caótica tenha um final, senão feliz, ao menos um tiquinho mais justo? Tenho uma sugestão. Um primeiro passo. Mas já vou logo avisando: você não vai gostar de ouvir. Não, não. Deixe quieto. Você anda muito irritado. Outro dia eu te falo. Você vai ficar brabo comigo… Promete que não? Então tá.

Falar é fácil…

Já que você insiste, aqui vai: o primeiro passo é reconhecer os próprios erros – e perdoar. Aceitar o fato de que caímos todos num bem contado conto do vigário, que nos iludimos, que acreditamos em promessas tolas e oportunistas de salvadores da pátria; que queríamos ser aceitos e estar do tal lado certo da história, que tínhamos por objetivo coletivo recuperar um Paraíso irrecuperável. E perdoar. Perdoar o outro e se perdoar. Nos perdoar.

Claro que falar (no caso, escrever) é bem mais fácil do que fazer. Nossa, é infinitamente mais fácil. Algo fervilha dentro da gente quando pensamos em perdoar quem nos fez tanto mal. Parece injusto e errado. Como sorrir e dar as mãos para um esquerdista que até ontem estava batendo palmas para Lula e Alexandre de Moraes? Como se sentar à mesa e brindar com um bolsonarista que até ontem estava me xingando?

Clichê cheio de boas intenções

Não sei. Mas parece que tem a ver com renúncia, sacrifício e humildade. De qualquer forma, se um dia eu encontrar esse Manual Fácil e Rápido do Perdão, prometo que virei correndo aqui contar para você. Até lá, porém, vamos ter que nos contentar com o clichê cheio de boas intenções, mas infelizmente vazio de significado e de esperança concreta: o Brasil precisa virar essa página. Senão… Ah, senão.

Um abraço do
Paulo

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noticia por : Gazeta do Povo

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